O errado sou eu ?

Não posso mais me queixar aos senhores leitores das coisas erradas que existem aqui pela Barra. Caí na real de que toda esta indignação e vontade de resolver tantos problemas que afligem a todos nós moradores do bairro pode ser algo muito equivocado.

Senão como explicar a multiplicação de irregularidades em tão pouco tempo e a aceleração do processo de degradação tão ostensivo, sem que nada de concreto esteja sendo feito pelos órgãos públicos e grande parte da própria comunidade local para resolver tamanhas excrescências sociais?

Devo estar completamente enganado em resmungar ao andar por quase toda a extensão da Rua Marques de Caravelas, literalmente pela rua, ao me esforçar para driblar as bancas de frutas, revistas e muitos ambulantes pelo caminho. Não há como andar por uma calçada repleta de buracos, desníveis, paradas de ônibus, carros estacionados, cocô de cachorro, postes e orelhões em um espaço tão diminuto.

Fico louco de raiva quando vejo os idosos parados em meio aos obstáculos esperando uma oportunidade de seguirem seus caminhos. Crianças em carrinhos de bebês nem se fala…

Vergonha pelas ruas.

E sobre a quantidade de linhas e a quantidade de ônibus que circulam pelas ruas estreitas do bairro e sem a menor estrutura para receber tantos impactos negativos?

É só olhar para o estado do asfalto, para o caos que os pontos de ônibus geram aos pedestres durante os horários mais movimentados e para os constantes engarrafamentos com “buzinaços” que ocorrem pela total desorganização no transito. Um absurdo.

Estou ficando rabugento também pela quantidade de “puxadinhos” que é possível ver por todo o bairro em imóveis que estão escancaradamente visíveis aos olhos dos órgãos fiscalizadores. As pessoas têm favelizado o bairro aumentando suas áreas irregularmente para os lados e para cima sem qualquer critério, como se aqui fosse um bairro popular onde não há pagamento de IPTU, laudêmios e muitas outras taxas que exigem uma ação mais pontual do poder público.

Andar por onde?

Na Barra o xixi continua sendo atração cultural e os carros com som alto podem estacionar bem em frente ao módulo policial do Instituto Mauá que não há qualquer problema. Pelo contrário, é neste trecho onde ambulantes se apropriam das calçadas com seus botecos móveis para fomentar uma baixaria sem precedentes regada a muita bebedeira, muita sujeira e tudo de ruim que se possa imaginar para um local que deveria ser protegido de tantos abusos por seu valor histórico e cultural.

Sinto-me lesado por pagar um dos IPTUS mais caros da cidade, viver há quase 40 anos no Porto da Barra, ter laços de vida com o bairro e não poder mais parar na balaustrada para contemplar um por do sol em paz sem ter que encarar tantas coisas feias, tanta sujeira e muito mal cheiro.

Fico estressado quando tento curtir uma praia e logo na chegada começo a ser atacado por ambulantes brigando entre si para ver quem vai me alugar um sombreiro ou uma cadeira, ou me vender alguma coisa.

A praia do Porto da Barra virou eterna festa de largo e a cada dia de sol que antecede o verão os problemas vão se acumulando sem que ninguém possa fazer nada.

Fundo da praia do Porto da Barra

As areias viram “farofas” de lixo se tornando um risco para a saúde das pessoas. A coisa fica pior com os criminosos eventos de verão que atropelam as leis de proteção aos patrimônios culturais do Bairro, para servir a argumentos tão injustificáveis como o próprio ato de se fazer cocô bem no jardim da casa de qualquer político, gestor público ou morador que concorde com tais abusos.

Muito cruel também é a dor que sinto quando faço meus mergulhos pelas águas ainda cristalinas da Barra, e dou de cara com o cenário desolador do lixo que vai para o oceano em razão da “alegria” dessas pessoas que estão matando o bairro. É triste…

Não vou falar dos mendigos, dos “sacizeiros”, da prostituição e do tráfico de drogas para não enlouquecer. Só de imaginar tratar destes assuntos já me vem uma forte dor de cabeça…

Será que ele tá certo?

A verdade é que não estou agüentando conviver com tanta permissividade dos órgãos públicos e com tanta falta de ação de muitos moradores e comerciantes que só fazem reclamar e não mexem uma palha para tentar ajudar aos movimentos que estão aí carentes de mais e mais apoio para defender os interesses coletivos.

Tenho certeza que eventualmente as pessoas ligam para denunciar irregularidades de rotina e quase nunca são atendidas. Quanto a isso, acho que estou ficando traumatizado já que é duro saber que pagamos nossos impostos e não conseguimos ter qualquer retorno por isso. É muito deprimente ter que achar que nós, cidadãos comuns, é que vamos ter que acabar fazendo o papel do fiscal da SET, da SESP, da SUCOM, da Vigilância Sanitária, do IMA, dos gestores da SALTUR, da Polícia, do Prefeito…

A foto não revela a sujeira e o mau cheiro, só o visual.

Não, não vou adoecer por tantos sentimentos ruins. Vou fazer uma reflexão profunda sobre todas estas coisas para entender a origem de tanto desgosto por tudo que está acontecendo na Barra.

Só estou receoso de concluir que a permissividade dos órgãos públicos e o silêncio de muitos moradores e comerciantes aqui do Bairro seja o que há de mais correto nesta estória. Que a degradação promovida por tudo de ruim que falei seja algo positivo aos olhos destas pessoas, ou melhor, que eu é que esteja vendo tudo errado.

De qualquer sorte, se assim for, jamais farei xixi no Marco de Fundação da Cidade ou estacionarei meu carro com som alto próximo a balaustrada do Porto da Barra para entrar neste grupo.

Prefiro arriscar fazer um cocôzinho no jardim ou na porta da casa de um político, de um gestor, de um morador ou de um comerciante que seja solidário com esta maneira caricata e muito injusta de cuidar da cidade.

E ninguém vai se importar com isso, muito menos eu.

Ainda sou otimista!

15 pensamentos sobre “O errado sou eu ?

  1. Uma andorinha só não faz verão. É duro lutar com um exército reduzido. São nos pequenos frascos que se encontram os melhores perfumes, a minoria tem muita qualidade. A qualidade dos poucos que lutam é o que vale e só o futuro vai revelar definitivamente a grandeza da bandeira e da luta.

    • Moralessssss…. Sempre com palavras otimistas e super motivadoras. Que bom que está junto conosco mesmo sendo morador de outra área. Estamos muito satisfeitos por sua atitude. Abço, bmussi

  2. Bernardo,
    Antes de mais nada ,parabéns pelo seu blog,este artigo esta muito bom.Acredito que evidenciando os problemas de nosso bairro estaremos de alguma forma,mesmo pequena, pressionando os moradores ,a sociedade e os gestores políticos à pensarem,refletirem e até quem sabe participarem de uma mobilização necessária obrigando uma ação responsável por parte dos mesmos .Através de soluções inteligentes e praticas poderemos alcançar este objetivo.Para nos tornarmos cidadãos civilizados e vivendo numa chamada democracia devemos participar na condução desta sociedade e não ficarmos passivos responsabilizando apenas ao setor público “governo”estas ações.Partipação de todos se faz necessário!Vamos em frente e otimistas…

  3. Bernardo,

    Concordo com tudo o que voce disse, inclusive com a parte do questionamento acerca da atitude e postura de muitos daqui da Barra. Por que será que eles não reagem? Medo? Acomodação? Ou simplesmente eles não veem o que nós vemos, não sentem o que sentimos?

    Será que todos eles estão errados e nós estamos certos ou será que essa anemia cívica, essa apatia comunitária, essa inércia política não é um fortíssimo traço cultural da cultura brasileira e baiana?

    Vamos em frente. Se questionar é muito importante. Tão importante quanto questionar os outros. Não desanimaremos nem faremos xixi pelas ruas de nosso bairro. E a luta é luta contra Golias. Teremos que achar a nossa pedra.

    Abraços,

    SERGIO MOGILKA

    • Amigo Sergio, admiro sua essencial participação nesta luta desigual. É de pessoas assim que precisamos para encontrar a nossa “pedra”. E sei que estamos quase lá. Abço, Bmussi

  4. Bernardo,
    Legal suas colocações e parabens pela determinaçao de tentar melhorar as coisas por aqui.
    Olha tem tanta coisa que nao sei nem o q mais me encomoda.
    Gostaria de ajudar a melhorar pode contar que estaremos juntos .
    Aloha

  5. Bernardo
    Parabéns pela sua coragem, pois eu sinto o mesmo que vc.
    Na realidade devemos tomar uma atitude perante tal situação.
    Eu gostaria de colaborar para tentarmos minimizar estes problemas.
    Pode contar comigo
    Abraços

    • Legal Aurélia, sua participação será super bem vinda e então sugiro que acompanhe nossas ações no site do SOS BARRA. Estamos lutando diariamente como formiguinhas pela recuperação da qualidade de vida em nosso bairro. Estamos avançando e a sua participação será fundamental. Abço, BMussi

  6. Olá Bernardo! Gostei bastante do seu blog e fiquei feliz em saber que sua ação foi que me inspirou a escrever o projeto do Sustentamodabilidade, dá uma olhadinha no nosso blog e conheça mais um pouco dessa história!
    Abraços!

    Berta Rehm

  7. Amigo, compartilho com sua percepção e sensibilidade. Seu relato me instigou a escrever no blog do SOS Barra, o meu próprio relato de um passeio de 2 horas numa tarde de 6a. feira no Porto da Barra…
    Acredito que através da EDUCAÇÃO ampliamos a CONSCIÊNCIA.

    • Puxa vida! Imagino o que deve ter visto e sentido neste passeio. E a cada dia que passa na direção do verão, as coisas só vão piorando. Concordo com vc, EDUCAÇÃO!!!!! Grande abraço,
      Bmussi

  8. Prezado Bernardo. Estou escrevendo uma matéria sobre hábitos soteropolitanos, entre eles o de levar o cachorro para passear e não recolher as fezes. Gostaria de poder contar com sua colaboração. favor entrar em contato através do: tonicouto@hotmail.com. Obrigado e parabéns pelas publicações.

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