Por fora dos camarotes, dos blocos e do carnaval.

Quando Santos Dumont inventou o avião ele jamais pensou que sua criação pudesse servir às guerras. Fico pensando em Dodô e Osmar, inventores do Trio Elétrico. Creio que o sentimento dos dois sobre esta fenomenal criação para o carnaval de Salvador tenha sido o mais democrático e popular possível. Jamais o sentimento de exclusão e degradação.

Juro que pensei até em escrever algo menos queixoso, para não parecer rabugento, porém, revendo alguns registros da festa este ano aqui na Barra, não tive como direcionar a imaginação para um tema menos espinhoso.

A CRISE CONTINUA

Primeiro por constatar que não há qualquer preocupação pelos impactos negativos que a folia causa ao bairro em razão do seu agigantamento ao longo dos últimos anos. É evidente que tal crescimento já passou de qualquer limite aceitável para um espaço tão pequeno, tão residencial e tão repleto de riquíssimos patrimônios que há muito carecem de atenção.

É complicado vivenciar a degradação do bairro e a necessidade urgente de sua revitalização em favor de toda a cidade e, ao mesmo tempo, ter que engolir a idéia paranóica de “experts” que este agigantamento carnavalesco na Barra seja essencial para o desenvolvimento de Salvador. Por isso o lugar deve resistir a tantas agressões.

Mas que desenvolvimento? Da indústria dos blocos, dos camarotes, dos trios, das cervejarias e de um turismo que expulsa os baianos da folia, eu até concordo. Só não consigo entender os motivos pelos quais os poderes públicos do estado e do município, que deveriam zelar por políticas sociais positivas e a conservação da nossa cidade, admitem passivamente esta situação.

ESCONDENDO A TRISTEZA

Fico preocupado quando vejo na mídia autoridades públicas tecendo comentários irrefutáveis sobre o carnaval na Barra. Em meio a tantas permissividades administrativas e ilegais em desfavor dos patrimônios e da população da cidade, tudo se justifica pelo discurso da geração de renda e benefícios diretos para a cidade.

Se fosse assim, pelos anos deste discurso que coloca a folia como a maior festa popular do planeta, parte da miséria e dos problemas sociais da cidade teria acabado. Mas a crise continua como se não houvesse carnaval. Por que?

Venho então com minha insistente ingenuidade tentar retratar um carnaval que não se parece em nada com tais discursos. Um carnaval percebido por quem mora na Barra e convive diretamente com a parte obscura da folia.

Diariamente conversamos com os ambulantes acampados pelas ruas, calçadas, nossas portas e praias do bairro. Compartilhamos o drama de famílias inteiras que levadas pelo apelo dos lucros carnavalescos, comem, urinam, cagam e dormem pelas ruas sujas e fétidas à margem da folia.

PATROCINADORES OFICIAIS

Das sacadas e janelas dos apartamentos residenciais é possível acompanhar o dia a dia dessa gente humilde. O sofrimento mascarado por uma alegria eventual não consegue esconder uma realidade socialmente preocupante. O desejo de estar “dentro” da folia com seu ponto comercial adaptado para dormitório, bem pertinho da praia, é algo muito atraente.

Não há certeza de lucro ao se pontuar as condições de trabalho e o esforço dispensado para montar e manter a “guia”. Compensa, entretanto, se não houver prejuízos imediatamente perceptíveis e se o ponto funcionar como base para a família e os amigos. Melhor ainda é poder “tomar várias” por conta do próprio negócio.

Os ambulantes e seus pontos são por maioria verdadeiros pontos de venda das cervejarias que, neste aspecto, são bem democráticas. Estão em todos os lugares sem a menor discriminação.

Vejam se não podemos dizer que estes são os camarotes do povão?

A diferença em relação aos que estão no circuito da folia, no nível e acima dos trios e das grandes atrações, é que estes geralmente estão nas ruas marginais, atrás dos camarotes bacanas e muito abaixo do nível das rodas dos trios. Além do mais, dificilmente terão um artista em suas instalações fazendo marketing ou trocando afagos verbais que garantam exposição na mídia.

CONTRASTE DE CAMAROTES

Nos camarotes do povão não precisa pagar por camisas e nem por pacotes com tudo incluído. Também não tem bandas alternativas, boates, cabeleireiros, salas de massagem, restaurantes, banheiros privativos e passeios de helicóptero.

Nos camarotes do povão não tem nada disso, porém, em compensação, só se paga o que consome. Além do mais não há controle de entrada, de estada nem de nada. Nem este negócio de “estatuto do carnaval” preocupa. Está tudo liberado, mesmo que em situação para saúde pública e direitos humanos nenhum botar defeito.

O carnaval por fora dos camarotes e dos blocos é muito diferente. A julgar pelos índices divulgados ao final da festa, de que a maioria dos foliões do carnaval é de turistas, a grande massa de cordeiros, vendedores ambulantes e “pipocas” é formada pela gente aqui da terra. Tem algo errado nessa fórmula e penso que Dodô e Osmar ficariam desapontados.

RESTO DA FOLIA

De certo é que ainda não me convenci de outra solução que não a mudança deste modelo de carnaval da Barra para outro local onde os impactos pudessem ser minorados. Já passou da hora de se criar um “AXEZÓDROMO” em Salvador para organizar a folia sem impactos sociais e patrimoniais tão questionáveis.

Um local apropriado para deixar o resto da cidade seguir o seu rumo de desenvolvimento e que acabe com esta choradeira da Prefeitura de dizer que gasta mais que arrecada com um produto tão valioso nas mãos. Já sugeri o CAB (Centro Administrativo da Bahia).

Alguém acredita que os hotéis, praias, monumentos e estabelecimentos comerciais da Barra deixem de lotar na época do carnaval, onde quer que ele aconteça?

Peço ao nobre leitor que me perdoe pelas observações redundantes sobre o carnaval. É que não consigo me convencer de que só a Barra é capaz de sediar este megaevento, neste formato, com tantas coisas negativas acontecendo.

Assumo também que posso estar equivocado em minhas considerações. Posso estar sofrendo de algum distúrbio “solidário-depressivo” que tem me levado a ter grande preocupação com a condição “submundista” da nossa gente na folia, além de um sentimento “pernicioso” de excessiva valorização dos patrimônios históricos, culturais e ambientais da Barra.

Entendo que estes são muito mais importantes que o próprio carnaval. Sério mesmo.

PORTA DO SHOPING

Por isso já marquei consultas com um psicólogo, um psicanalista, um antropólogo e um sociólogo para ver se eu é que estou interpretando as coisas equivocadamente. Marquei também uma revisão no oculista para ter certeza que não estou vendo coisas demais.

Além disso, estou agendando aconselhamentos com empresários, os principais artistas e a grande mídia para tentar me convencer das maravilhas que justifiquem insistir com essa idéia, como se nada de grave estivesse acontecendo.

Porém, de todas estas consultas e aconselhamentos, além do prefeito e do governador, eu queria mesmo era saber a opinião de Dodô e Osmar. Acho que não me decepcionaria!

Acredito que os pais do Trio Elétrico entenderiam grande parte dos meus argumentos. Até porque o circuito da Barra se tornou o símbolo do desprezo carnavalesco com a dignidade humana, com nossa cultura e nossa história.

História, inclusive, da qual são protagonistas ímpares no cenário carnavalesco. Assim como aqueles que estão por fora dos camarotes, dos blocos e do próprio carnaval.

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Ps. Prometo não falar do carnaval, nem da degradação da Barra e da cidade no próximo texto. Só no próximo…

55 pensamentos sobre “Por fora dos camarotes, dos blocos e do carnaval.

  1. B M vc agora pegou no fundo da miséria baiana patrocinada pelas cervejarias através de consignação de material onde as autoridades acham graça em seus camarotes no decorrer do desfile, já com seus bolsos cheios é claro!
    Coitado de vcs moradores deste bairro glamuroso e lindo, primórdio da Bahia, cartão postal de nossa cidade, lixo do turismo carnavalesco que não perdoa vem para desfrutar do desfrute dos baianos, trazem alegria, dinheiro para as de turismo e hotéis e blocos.
    A folia passa, os turistas vão embora e deixam a menssagem ¨Ano que vem eu volto¨
    com isso sustentando o carnaval antecipado para o próximo ano, dinheiro certo no bolso dos governantes das industrias e turismo, bom claro destribui renda mais para poucos, renda essa que toma as calçadas onde pagamos nossos impostos para ter direito de ir e vir através dos glamurosos camarotes feitos para os turistas pois nossa renda não permite esse novo meio de diversão segura em nossas calçadas, pois é isso amigo estou com vc é uma luta mesmo invencivel eu creio por que envolve muito interece para que isso mude temos que eleger um prefeito e um governador par poder dar o sossego de volta a Barra.
    grande abs.

    • Grande Marola! Vc é sempre um cara de referência para nossas ações. Um cara iluminado e que tem uma visão super solidária das coisas. Falou tudo, o recado é “ano que vem eu volto” !
      Que bom que estamos compartilhando sentimentos bem parecidos em favor de uma melhor qualidade de vida da nossa gente. Forte abço em vc e na linda familia. Bmussi

  2. MAGNÍFICO texto, Bonga! PARABÉNS! A completa tradução do sentimento de muitos diante de tamanho absurdo, creio eu. Ainda que não sejamos maioria, nossa voz há de ecoar e acordar os “ignorantes” a tempo. Com otimismo, sigo acreditando muito nisso. Moro nas redondezas, fiquei em Salvador nos três primeiros dias de carnaval e presenciei as mesmas cenas retratadas brilhantemente por você neste post. A sensação é de caos e desordem, onde a falta de educação e respeito, a bagunça e a miséria era o que mais imperva nas ruas. Cenas lamentáveis… Mas, sigamos em frente! Nossa indignação é o que nos move! Estou com vocês nessa luta! Abs!

    • Rsss. E não esqueci da turma do Triahtlon para nos ajudar em ações futuras. Creio que é uma turma com um perfil super legal que também deve se incomodar com a qualidade de vida da nossa gente. Vamos juntos. Bmussi

  3. Bernardo … sem muito o que comentar mas parabéns meu velho, como no seria o mundo se existisse mais gente que pensasse como você.
    Grande abraço

  4. Bernardo, concerteza vc tem toda a razão, não precisa conssultar ninguem, o unico problema é que os que estão no poder não pessam em outra coisa que não dá onde vai levar vantagem para ganhar algums milhõezinhos. Parabens, a nossa parte tentamos fazer sempre mais os do poder… .
    Abraço. Lúcio Gusmão

  5. Importante registrar: A festa que pretende espichar o verão e no ano de 2011 aconteceu na Praia da Ribeira, trouxe o lixo, até então despejado no Porto da Barra, para a já poluída e depredada Península Itapagipana. Aqui não existe SUCOM, LIMPURB, COELBA, PM, nem prefeitura. Os postes estão caindo, a fiação elétrica a ponto de um incêndio, o calçadão ruindo e da praia nem se fala. Será que o problema é da Barra ou se estende a toda a cidade? Vale refletir!

    • Amigão, o problema é da falta de planejamento para poder “empurrar guela abaixo” estes eventos que acabam se tornando verdadeiros problemas para qualquer lugar. Aqui na Barra nós brigamos, documentamos e provamos que tal evento potencializava em muito os problemas já existentes no bairro. Acredito que por aí deva se fazer o mesmo. A comunidade tem que se levantar e lutar contra esta fome insaciável dos gestores públicos em fazer as coisas de qualquer maneira, apoiados em argumentos injustificáveis. Se quiserem qualquer ajuda sobre como fizemos o movimento por aqui, estaremos a disposição para ajudar. A ribeira não merece mais castigo. Mande ver. bbmussi@superig.com.br
      Abço,
      bmussi

    • Valeu Burity ! Importantíssimo que divulguemos nosso sentimento sobre a folia dos dias atuais. Não podemos perder esta festa para meia dúzia de espertalhões. O carnaval é do povo de Salvador!!! Abço, Bmussi

  6. Adorei o texto ao mesmo tempo que informa ( p/aqueles que teimam em não ser informados) nos faz refletir até que ponto nossos governantes planejam e estruturam esta festa; Ainda mostra ‘aqueles credulos e implistas que ainda acham que sem o carnaval na Barra, Salvador vai falir e teremos de vender nossos
    ” pobres” cantores para são paulo. Aqui vai minha sugestão mostre no proximo post os numeros pagos pelos espaços no carnaval e aqueles que foram arrecadados pelos blocos e camartotes se não me engano saiu no jornal da metropole, um forte abraço valéria

    • Valeu Valéria! Realmente nosso povo é muito mal informado. E a julgar pelo bombardeio que a midia promove de coisas ruins para o desenvolvimento da nossa gente, a coisa tá feia.
      Vi os dados no Jornal da Metrópoli e achei muito legal. Não me surpreendi. Há um desequilibrio enorme na festa. Algo preocupante. Mas vamos em frente tentando melhorar a qualidade de vida da nossa gente. Abço, bmussi

  7. É issso Bonga fico indignado com tanta falta de respeito das autoridades com nós que pagamos os nossos impostos, depois do Carnaval os donos de camarotes, artistas e os donos do carnaval váo para o exterior onde tudo funciona e larga a lama por aqui.
    Até hoje tem lixo na praia do Farol da Barra com barracas na areia com pessoas morando e fazendo suas necessidades.
    Ta brobo meu velho.

    • Valeu Zé! E vc é um grande parceiro nesta luta. Um dos grandes idealizadores do FUNDO DA FOLIA e que tem ótima visão sobre o tema. Vamos em frente, tamo juntos. Abço.

  8. Bernardo, a sua matéria traduziu o sentimento de indignação de muitos moradores da Barra e de outros bairros da cidade. Eu também circulei pelos “bastidores da falia” fazendo algumas fotos e confesso que em diversas oportunidades me defrontei com situações tão desumanas que não tive coragem de fotografar.
    Parabéns por se mostrar tão sensível aos problemas que para muitos passam despercebidos. Necessitamos de um batalhão de pessoas como você para o mundo se tornar melhor!
    Abraços,
    Jurema

    • Amiga Jurema. Estamos juntos nesta batalha inglória por dias melhores em nosso bairro. Vc também tem feito um grande esforço nesta luta. Sua participação em nossas reuniões sempre com colocações muito equilibradas são muito estimulantes à manutenção das nossas ações. Estamos juntos, Bmussi.

  9. Caro Bernado Mussi, lhe mando o que publiquei na Tribuna da Bahia no dia 22 e depois publiquei no Facebook e e no final tevi que esclarecer o que comentei

    O Carnaval e o centro Histórico
    O monumento ao Dois de Julho não merece isto.
    As artes visuais compreendem as chamadas Belas Artes, Arquitetura, escultura, pintura e desenho, evidente que a contemporaneidade alterou estes conceitos e ampliaram outras manifestações, instalações, happening, vídeo arte etc.. No entanto a crítica de arte mantém o seu discurso mudam-se os meios mais o critério para a expressão do juízo de valor continuam os mesmos. Considerado estes aspectos, e o carnaval hoje em salvador, não é mais um espetáculo plástico visual como antigamente perdeu, ou melhor, conseguiram acabar com esta tradição, para “melhor comercializar a festa”, em nome disto o que se vê é uma festa não mais popular e sem os atrativos plásticos visuais. A onda agora é dos cantores famosos e seguir atrás deles em blocos caríssimo para quem pode pagar, os que não podem, pode brincar em seu 1 metro que separa a corda das calçadas.

    Pior que isso é a insensibilidade dos organizadores da festa em ainda manter o carnaval no centro da cidade. O campo Grande é um patrimônio histórico e público, mais nestes dias é seriamente vilipendiado em sua beleza plástica cercado praticamente de arquibancadas e tornando-se um grande banheiro a céu aberto e todo ano gasta-se uma fortuna para montar e desmontar toda a sua estrutura, a cada ano aumenta o número de folião nas ruas e eles (os governantes) ainda insistem em manter a festa neste circuito.

    O que se vê, nas ruas laterais cheia de gente e ali fazendo suas necessidades. Um estudo realizado certa vez mostrou que em grande parte a violência se da pela falta de espaço, quando as grandes estrelas descem a avenida vem trazendo aqueles que seguem e vão de encontro aos que estão paradas, ai “o pau quebra”. O cidadão que mora no centro, que não deseja participar da festa ou viaja ou se confina, pois é impossível atravessar a rua de tanta gente, afora outros riscos.

    Ainda não entendi por que os ambientalistas não se manifestaram, não acredito que o ácido úrico expelido nas árvores e jardins do Campo Grande, faça bem as árvores. A Praça da piedade é cercada de tapume, se não me engano o IPHAN mandou mudar de posição o palco quando das festas no Farol da Barra, para não encobrir o patrimônio histórico tirar sua visibilidade o que é proibido por lei. E a Praça da Piedade por que, cercam, será que não é para não ser destruída, ou virar um acampamento como no Largo Dois de Julho.

    No Largo Dois de junho os canteiros centrais são ocupados por imigrantes temporários, que vem para vender seu comércio, queijo e churrasco, que são preparados, lavados, assados, neste mesmo acampamento, sem nenhuma fiscalização da vigilância sanitária. Acrescente-se ainda que as necessidades pessoais como tomar banho e outras são feito no entorno do Largo dois de Julho.

    Será que os Governantes não percebem que, o dinamismo do carnaval mudou os aparatos tecnológicos mudou, hoje são camarotes e não mais os clubes que realizam bailes, e todos montados, para “enfear” mais o carnaval em seus circuitos. Como bem disse Gregório de Matos “Triste Bahia ó qual dessemelhante” e Viva a Momo.

    Giulio Argan arquiteto e teórico da arte que também foi Prefeito de Roma, em seu livro “Guia de História da Arte” nos fala que uma cidade inteira pode ser considerada uma obra de arte, no que tange a seus aspectos culturais e arquitetônico. O Campo grande é uma obra de arte e seu monumento ao Dois de Julho tombado, isto significa que qualquer construção em seu entorno, pela lei tem que ser autorizado pelo IPHAN, ora se é uma obra de arte e sem tem lei, cadê a proteção. Não se pode compreender uma sociedade que aceita isto pacificamente, a praça da piedade é outra que para a sua proteção fecham com tapume, então é sabido, pois que não protegida seria vilipendiada, dá para entender fazer uma festa que se presume alegria e tapar a tudo, fachadas de lojas e bancos, para que a horda humana, são destruam, então fica claro, que não é uma festa pacífica e que o seu circuito não mais oferece considerações de segurança, nem ao cidadão nem a seu patrimônio. Diz que “baiano burro nasce morto”, então os organizadores da festas são espíritos desencarnados ou almas penadas.

    Prezados, dado a um equívoco de entendimento, por conta do meu artigo sobre o carnaval, não sou contra o carnaval, mais sim que o centro da cidade não suporta esta estrutura, por que não transferir para a paralela, sobe trio desce trio e nada mais acontece. Exceção fica aos blocos afros que só saem depois da meia noite onde as mídias já encerram suas atividades, discriminação, não sei, mais o Ilê o Muzenza, apaches etc.,Não é mídia nacional
    Aldo Tripodi

    • Amigo Aldo, vejo que temos muito em comum em nossas apreciações sobre nossos patrimônios histórico/culturais. Não é exagero algum dizer que estes estão sendo expurgados da nossa memória em razão de uma completa falta de zêlo dos gestores públicos e da nossa própria população. Vejo com enorme preocupação a inversão de valores que tem sido amplamente divulgado pela midia à nossa gente, deixando de enfatizar o valor da nossa história em detrimento de iniciativas culturais, se é que se pode chamar assim, de baixíssimo nivel. Estou contigo e da mesma maneira não sou contra o carnaval. Acho apenas que ele se agigantou de tal maneira que não cabe mais no centro da cidade, em áreas tão sensíveis como a Barra, o Campo Grande e outras. O carnaval de hoje não serve mais a nossa gente, nem no quesito alegria. Gostei muito do seu artigo e por ser morador aqui da Barra, tenho concentrado minhas observações aos patrimônios que temos por aqui. Entretanto, pela natureza da nossa indignação, nada impede que estejamos juntos em novas ações a favor da nossa memória, da nossa cultura e da nossa gente. Vamos em frente. Grande abraço, Bernardo Mussi.

  10. Mto bom, Bernardo! Compartilho a sua indignação. O problema é mto sério e precisa ser encarado de frente com mais e mais protestos e mta mobilização. Abçs, Neyde.

    • Amiga Neyde, que bom contar com sua simpatia pela causa. Espero que consiga materializar sua jornada de volta a esta cidade para somarmos esforços na direção de uma qualidade de vida melhor para nossa gente. E a sua arte com fotografia e os seus argumentos muito equilibrados serão fundamentais. Grande abraço, Bmussi

  11. ….mais um ano se passa e pelo visto as coisas não mudam,só pioram, não vou criticar porque as imagens falam por si só, entretanto quero compartilhar com você minha indignação e dizer que por aqui (São Paulo) a coisa não fica tão longe…….são os oportunistas de plantão lançando mão da festa popular para dar “pão e alegria” para o povo de forma controversa……abraços e parabéns pela matéria….

    • Amigo Ivo, realmente o Brasil precisa de um pequeno choque no juízo se quiser avançar no quesito social, na mesma velocidade que estamos avançando no quesito marketing internacional. E vem a Copa do Mundo aí. Vamos em frente e se puder divulgue a matéria por aí pois acho legal “globalizar” a ideia… Abço, bmussi

  12. Meu amigo.
    Parabéns pelo material. Tenho inveja e ao mesmo tempo admiração. Peço que continue, pois, como dizia nosso amigo, o trabalho tem que ser de formiguinha. grande abraço.

    bira medeiros – radicado, agora em Araruama – RJ desde 2011.

    • Inveja tenho eu de VC aí no RJ pegando as ondas boas… Pertinho de Saquarema! Vces são pessoas que moram em nosso corações. Divulgue o texto por aí. É bom “globalizar” a ideia..
      Forte abraço. bmussi

  13. Concordo com as coisas que diz , porém não é só a Barra que está sendo deteriorada, isso reflete na Bahia Toda… infelizmente acho que aida mai piorar muito antes de mudar o rumo da prosa, porque somos gente , e é assim tem gente boa e gente ruim, as boas nao querem nen saber de se meter com essas coisas de poder né, ai sobra pra quem gosta e da nisso…ai temos que colocar nossas esperanças nos maremotos e terremotos pra ver se ajeita esse planeta…

    • Legal Pedro ! Gostei dos maremotos e terremotos rssss… Podemos adequá-lo a uma realidade de idéias e de ações populares. Criar uma tsunami popular contra tantas mazelas acobertadas por purpurinas sem brilho algum. Estamos juntos. Abço, Bmussi

  14. Caro Bernardo,
    Parabéns pelo texto. Ele sintetiza tudo que a maioria dos moradores de SSA gostariam de expressar. Acho que deveria ser publicado em primeira página de todos os jornais, em evidência para ver se algo positivo acontece para mudar esta situação. Conheci uma senhora de 72 anos que nos dias de carnaval, se muda, literalmente, para a Barra, aluga um quartinho (só Deus sabe em que condições), para vender bebidas na festa. Ela é diabética… e quando não aguenta ficar em pé, descansa na calçada, jogada feito um saco de lixo usado… com um olho fechado e o outro aberto, cuidando do isopor, com o que imagina ser o seu reforço orçamentário.
    Fico me perguntando: será que Dodô e Osmar estariam desfilando nas avenidas em um trio elétrico de alta tecnologia, com meninas seminuas e meninos bombados????
    O carnaval, esta festa “popular”, que na realidade é “vip”, virou uma grande indústria de fazer dinheiro. Não sou contra, mas acho que deveria haver regras e condições para os trabalhadores, principalmente, os ambulantes que passam por siutações degradantes.
    Vamos acreditar que um dia isto muda??? eu tenho fé.

    • Amiga Vera, fico muito feliz por ter tocado de uma maneira bem “aceitável” neste assunto que tem ganhado dimensões bem interessantes nos últimos dias. Vejo que vc é conhecedora deste grave problema e creio que estamos dando voz a uma grande parcela da sociedade de Salvador que já não consegue ser ludibriada com esta fórmula cansada do carnaval que está aí. Este foi um texto que ganhou muitos elogios e certamente, não pense que gosto de holofotes ou coisa do gênero, ficaria bem em uma coluna do Jornal ATARDE para vermos os tipos de comentários que seriam feitos. E mais ainda por ser uma oportunidade de chegar diretamente ao “agentes do carnaval”. Mas quem sou eu… Um morador da Barra apaixonado pelas riquezas naturais, historicas e culturais, que se esforça para lançar no teclado uma série de sentimentos inquietantes de quem respira os ares deste lindo bairro. Não me sinto capaz de figurar entre os capacitados cronistas do jornal. Mas a sua participação neste processo é fundamental já que temos hoje ao nosso dispor a internet como grande difusora das nossas ações. Se gostou, realmente, divulgue, lance nas redes sociais, espalhe a ideia por aí. Quem sabe os Deuses nos ouvem por um carnaval mais alegre, mais justo e menos degradante. Valeu mesmo. Abço, Bmussi.

  15. Muito pertinente cada parágrafo escrito, parabéns por relatar a verdade do lado negativo do “Turismo” no carnaval baiano. Infelizmente as autoridades e as empresas privadas só estão visando a rentabilidade financeira que o evento favorece. O impacto do Turismo negativo me preocupa muito, pois ele não é trabalhado no país, o descaso quanto ao pós-evento, pós-visita turística é um grande problema, vindo a gerar isto aí que vc descreveu e visualizou!
    O Turismo mau trabalhado é destruidor, prejudicial e agressor. Quem sofre com isto? A população local e o meio ambiente.É preciso que o Turismo seja desenvolvido com responsabilidade para que não gere destruição. Excelente sua atitude em escrever sobre isto.abraços

    • Valeu Cli ! Vejo que tem enorme sensibilidade pelos problemas ligados ao meio ambiente. Isso é muito bom, isso é ótimo. Pessoas assim é que deveriam estar mostrando a cara, fazendo ouvir a voz em alto brado para que o mundinho em que vivemos possa ser um lugar ainda mais alucinante. É duro ver este rótulo do carnaval de Salvador como a mega festa, a festa da alegria, a festa das diferenças e outros adjetivos pouco pertinentes, e ao mesmo tempo perceber tantas mazelas e tantas coisas ruins sendo jogadas para debaixo do tapete. Acredite, Salvador, este paraíso natural, histórico e cultural está agonizando. Sem dinheiro, com seus monumentos históricos à mingua, com sua natureza diariamente agredida, com uma corrupção pra lá de vergonhosa e com uma educação pra cá de inexistente, tudo por aqui parece uma ilha da fantasia. Na midia aquela propaganda que mais parece uma foto tratada no photoshop e pelas ruas a nua e dura realidade de violência, sujeira, serviços de baixa qualidade e muita bagunça. Mas tem turista que adora. Fazer o que???? Grande abraço e estamos juntos. Bmussi

  16. Olá Bernardo,

    Navegando pela blogsfera wordpress, da qual também faço parte, encontrei seu blog. Cara, adorei seus textos, sua indignação…
    Acredite, você não está sozinho nessa.

    Há tempos eu, ainda estudante de Turismo em São Paulo, partcipei de um Congresso de Estudantes de Turismo no Rio de Janeiro e questionei os organizadores do Rock’n Rio sobre os moldes ultra-mercenários que o evento estava tomando. Quase fui linchada. Afinal, como uma futura turismóloga podia ignorar a tal “veia” econômica do Turismo?

    Eu tentei argumentar, expor meu ponto de vista (que crê em um tipo de Turismo que seja bom, não apenas sob o aspecto financeiro), mas qual nada. Os marketeiros do Rio só querem saber de “Money”. E o pior de tudo foi constatar que, em meio a uma multidão de estudantes de Turismo, menos de meia dúzia de gatos pingados me deram razão.

    Eu me decepcionei muito no decorrer do curso e larguei aquilo lá. Acabei me formando em Segurança do Trabalho e, em breve, concluo o curso de Meio Ambiente. Quando o assunto é sustentabilidade, não dá pra comer pelas beiradas não. Tem que encarar de frente, porque os argumentos dos desenvolvimentistas ainda falam alto por demais em um país que ainda guarda lembranças amargas de uma hiperinflação e que aproveita a época de vagas gordas igual criança que nunca comeu melado.

    Um abraço amigo.
    Amanda Paz (uma paraense perdida em Minas Gerais)
    http://maesso.wordpress.com (“Saúde, Segurança do Trabalho & Meio Ambiente)

  17. Frase da filósofa russo-americana Ayn Rand (judia, fugitiva da revolução russa, que chegou aos Estados Unidos na metade da década de 1920), mostrando sua percepção com conhecimento de causa.

    “Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem nada produz; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais do que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de nós; quando perceber que a corrupção é recompensada e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que a sociedade em que você vive está condenada”.

    BONGA….DENUNCIE…..
    ALOHA
    Benjamin

  18. Parabéns pelo excelente texto. Há 11 anos saí de Salvador e desde então venho acompanhando a degradação cultural e urbanística de nossa cidade. O carnaval de Salvador se tornou uma grande micareta, elitista e pasteurizada que em nada lembra o carnaval das décadas de 70 e 80, ou mesmo da década de 90, quando a mercantilização da folia ainda engatinhava. Sou nascido e criado em Itapuã e lá a degradação tb é grande, mesmo sem carnaval. A região está favelizada (Stella Maris passou de paraíso a inferno em 15 anos) e sofre com a especulação imobiliária e o crescimento desordenado que já descaracterizaram o “principado” há muitos anos. Salvador trocou as lavagens por ensaios, o frevo por pagode, as festas de rua pelas festas vips, Luis Caldas por Léo Santana, a baianidade pela mediocridade, a guitarra baiana pelas pick-ups, Sarajane por Ivete, a beleza pela degradação, a pipoca pelo camarote, os Apaches pelo Superman. O problema é que os turistas e a máfia de empresários do axé não têm compromisso com o futuro da cidade e, assim como o superman da pérola “pagodística” do carnaval 2011, eles fogem depois dos 5 dias de “folia”. Mas a população que não tem opção fica enquanto assiste a cidade se afundar na merda. Hoje, quando alguém de fala que se arrependeu de ir a Salvador e que achou a cidade feia e suja, não tenho coragem de retrucar. Se eu, que tenho minhas raízes aí, só vou mesmo pra visitar a família e cada vez me decepciono mais…

    • Excelente está o seu comentário! Adorei as comparações, não poderiam ser mais precisas… Por aqui vou tentando oferecer um pouco de resistência ao rolo compressor da especulação. É que moro nesta linda cidade e não tenho planos, por hora, de sair para outro canto. Vou compartilhando minhas percepções! Valeu e um grande abço.

  19. ‘Bonga, aqui é João Paulo, Papa que foi seu colega no Social. Parabéns, vc está escrevendo muito bem. Por falar nisso, tenho uma solicitação de amizade pendente com vc no facebook. Me adicione, man. abs’

    • Vou addd já…Pô, que legal que gostou do texto. Mas a inspiração demora e na hora de botar as ideias no papel o tempo é longo rsssssss…Vou me esforçando.
      Precisamos marcar um happy entre a turma que ainda está pela área. Grande abço, BMussi

  20. Enfim… é lamentável perceber, constatar, diagnosticar tanta sujeira (nas ruas e nas gestões públicas e privadas). Lamentável, ainda, é perceber que não somos mais coletivos; que a nossa passividade e interesses pessoais nos impessam de ir às ruas (também por opressão de uma falsa democracia) protestar e “impedir” tantos desmandos. Artistas-empresários, políticos e mídia – o carnaval é somente deles… E ninguém está disposto a perder a festa, perspectivando transformações (só nos valem se forem profundas…). Apostei na greve dos policiais (independente das manobras políticas, pois estas existem sempre…). Pensei e penso que a cada dia que passa, transformações só ocorrerão com uma boa sacudida nessa estrutura. E só me vem à cabeça, uma revolução!!!! Seriamos capazes?

    • Sim, seríamos capazes! E não necessariamente a revolução passa pelas receitas que estamos acostumados a ver. Podemos ser criativos e eficazes, na paz. Criatividade pra cima deles…Abço.

  21. O mais engraçado nisso tudo, é que a BAND, a Itapoan, a TV Bahia e o SBT se recusam durante a festa a fazerem a cobertura dessa parte de “atração de emprego e renda” que a indústria carnavalesca proporciona… “ Fevereiro… Alegria muita festa todo dia quem pode, pode, quem não pode se sacode quando a banda “.

  22. Perfeito! Nem tenho palavras para elogiar as suas palavras caro Mussi. Morei em Ondina vários anos e bem sei tudo o que foi retratado aqui. Minha mãe ainda mora lá e todo ano é obrigada a sair de sua própria casa. Os transtornos, os vexames, o fedor, transito, barulho são insuportáveis antes, durante e ainda depois da festa. Tudo é danificado. Algo precisa ser feito e logo! Concordo em criar um novo circuito, URGENTE!! Abs

    • Só quem mora nestas áreas e vê o carnaval em sua “magnitude” é que sabe o que sofremos. Mas sou super solidário à pobreza, aos ambulantes que se sacrificam para dar de comer aos seus filhos. E por isso acho que este modelo de carnaval na Barra/Ondina deve ser reformulado, diminuído em condições que se possa ter qualidade. Atualmente a folia neste trecho tem sido um duro no golpe na cidade. Valeu, vamos em frente…

  23. Eu gosto de carnaval, sempre gostei, gosto da ideia do carnaval. De me fantasiar como quiser, de dançar ,de brincar, de dançar ao som do trio elétrico de graça sem pagar nada.Durante o período da festa apenas comemore, deixe tudo para lá.Pessoas pobres, sempre existiu e muito provavelmente sempre existirá.Esqueça os menos favorecidos financeiramente durante o carnaval.Você tem o resto do ano para resolver isso:como diminuir a pobreza Quanto a mudança do local do carnaval tirando ele da Barra e do centro da cidade transferindo para a avenida Paralela achei uma boa ideia .Tem que fazer um teste,

    • Que legal Maisa, também gosto do carnaval. Mas acho que ele é uma excelente ferramenta para ajudar nesse processo de diminuição da pobreza, tanto finaceiramente como culturalmente. Por isso a minha bronca. As pessoas exploram a festa de uma maneira pouco produtiva neste sentido, aliás, nada produtiva. A minha preocupação é com a degradação que a festa promove em pontos vitais da nossa cidade e que herdam ao longo do resto do ano um passivo muito negativo. Salvador tem o privilégio de ter um produto tão grande como o carnaval, a maior festa popular do planeta, e deveria focar resultados sociais com isso. Sem diminuir a alegria, a liberdade, a multiplicidade de culturas e tudo o mais que a torna tão grande. O carnaval deve se tornar maior ainda por conta de benefícios sustentáveis, só isso… Grande abraço e valeu o post.

  24. falou tudo bonga. vamos empurrar guela abaixo deles também. a web é um canal poderoso de mobilização. os aplausos começam com uma primeira palma. assim como vc, busco viver questionando e cobrando as deficiencias ao meu redor. vamos continuar..

  25. Muito bom. O carnaval de Salvador e tudo que você descreveu é a cara do nosso Brasil. Lamentavelmente.

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